quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Relatório Extra Curricular Ciências Humanas

DISCIPLINA EXTRA CURRICULAR: CIÊNCIAS HUMANAS – Práticas e Contextualizações no Cotidiano

Relatório Semestral

Professora: Diane Martina Heger

OBJETIVOS

O objetivo desta disciplina extra curricular tem como base que o processo de aquisição do conhecimento seja feito mediante o desenvolvimento de determinadas competências e habilidades.

OBJETIVO GERAL

Permitir aos nossos alunos posicionarem-se no mundo diante de dados e informações, aplicando conceitos, lendo e utilizando diferentes linguagens, auxiliando-os a problematizar o mundo contemporâneo e as complexidades das relações sociais e, por fim, recorrer aos conhecimentos das ciências humanas para perceber esses processos com o vivido.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

· Buscar, ler e interpretar as complexidades do mundo atual;

· Estabelecer relações de contradição;

· Analisar as relações que os próprios alunos estabelecem sob violência, relacções de gênero e étnico-raciais em seu cotidiano;

· Reconhecer e julgar as diferenças (étnicas, culturais, religiosa, etc);

· Julgar pontos de vista divergentes;

· Ter atitudes inerentes à prática da cidadania;

· Construir suas próprias opiniões (autonomia).

METODOLOGIA

Os conteúdos foram ministrados através de aulas expositivas, trabalhos em grupos e em duplas, rodas de conversa, leituras de textos, estudos dirigidos, dinâmicas de grupo, pesquisas nos diversos meios de informação, apresentação de painéis, análises de temas e desenvolvimento de exercícios de fixação.

As aulas foram ministradas em locais diferenciados, tais como biblioteca, laboratório de informática, sala de vídeo, entre outras estruturas que a escola dispõe.

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Os conteúdos foram trabalhados paralelamente nas segundas e terceiras séries do Ensino Médio, possuindo mesma temática, diferenciando de uma série para outra o enfoque dado e o detalhamento do tema, sendo a terceira série um desdobramento dos conteúdos ministrados na segunda série, de modo a dar continuidade aos assuntos, bem como proporcionar uma interligação entre os períodos.

Foram trabalhados assuntos relacionados à violência na escola, com leitura de textos, notícias e rodas de conversa que permitiram aos alunos avaliar seu cotidiano e suas próprias ações. Neste sentido foi abordada a questão da violência institucional, que é a depredação do espaço escolar e de que maneira o vandalismo está ligado ao sentimento de não pertencimento ao ambiente escolar. A partir das discussões travadas os alunos colocaram possíveis soluções para integrar a escola à comunidade, de maneira a incentivar a preservação do espaço escolar.

Ainda sobre violência, foi trabalho o tema bullying, que é todo tipo de violência moral e simbólica que impõe sofrimento psicológico e físico sobre a criança e o adolescente nos espaços coletivos de convivência social. Foram produzidos cartazes que foram espalhados em espaços visíveis da escola como incentivo a não prática deste tipo de violência e o respeito mútuo entre o corpo discente. Também foram lidos textos, e realizadas rodas de conversas.

A ditadura militar foi trabalhada de modo a mostrar o ranço violento existente em nossas práticas cotidianas, especialmente nos espaços públicos de poder e intervenção como as polícias. O passado violento do Brasil exerce influências diretas sobre como nós hoje encaramos este problema. Nossa maneira de pensar quem é alvo de violência, como e por que, está intrinsecamente colocada no controle social exercido sobre a pessoa humana desde o período escravagista no Brasil.

A cultura dominante e as raízes patriarcais existentes no Brasil também nos expõem a violência e discriminação de gênero. Homens e mulheres possuem até hoje, infelizmente, oportunidades diferenciadas por conta de sua condição de sexo. O machismo é muitas vezes ocultado em nossas ações, de forma que seguidamente reproduzimos práticas de preconceito sem nos apercebermos disso. Ficou evidente esta constatação ao pedir que os alunos dissessem o que é emprego de homem e o que é emprego de mulher como que incrustadas no DNA. Mulher já “nasce” sabendo cuidar da casa! É o que muitos alunos disseram. Abordar a questão de gênero ocorreu no intuito de desmascarar a construção social das identidades de homens e mulheres baseadas no sexo biológico, apresentando que ambos possuem mesmas capacidades e por isso devem ter as mesmas oportunidades. Assim, foi trabalhada a questão da Equidade de Gênero: homens e mulheres são diferentes, porém não desiguais e por isso devem ter os mesmos direitos e mesmas oportunidades.

Segundo o Manual de Formação em Gênero da Oxfam, a palavra gênero foi usada na década de 70, por diversos(as) autores/as, no intuito de descrever aquelas características de mulheres e homens que são socialmente determinadas, em contraste com aquelas que são biologicamente determinadas.

“Essencialmente, a distinção entre sexo e gênero é feita para enfatizar que tudo que homens e mulheres fazem, tudo que é deles/as esperado - com exceção das funções sexualmente distintas (gestação, parto, amamentação, fecundação) - pode mudar, e muda, através do tempo e de acordo com a transformação e variação de fatores sócio-culturais” (OAKLEY, 1999).

As pessoas nascem machos ou fêmeas e aprendem com os grupos sociais que convivem a tornarem-se meninos e meninas, homens e mulheres. Nos processos de socialização são ensinados no interior dos grupos, no dia a dia, comportamentos, atitudes e relacionamentos adequados, papéis e atividades de meninas e de meninos. Estes ensinamentos são aprendidos, incorporados determinando a organização da identidade de gênero.

O conceito gênero é dinâmico, podendo variar entre raças, culturas, classes, entre outros fatores culturais. Estes comportamentos, papéis, mudam com o tempo, com as condições sócio-históricas. Este conceito serve como instrumento político de análise das relações construídas socialmente entre homens e mulheres, constituindo um debate que está inserido no campo social, pois é neste espaço que as relações acontecem na prática, é lá que as desigualdades, as discriminações se efetivam. É preciso focar o conceito de forma multidimensional, pois as concepções diferem em lugares, espaços e tempos. Gênero deve ser entendido enquanto construção de identidades múltiplas, plurais dos sujeitos, as quais se transformam, são dinâmicas (LOURO, 1997).

As relações de gênero apresentam-se desiguais e diferentes em vários aspectos da vida cotidiana. A valorização diferenciada do trabalho realizado por homens em detrimento do realizado por mulheres é explicada por um conjunto de autoras, pela existência da hierarquização entre os gêneros. Esta relação tem sua base material na divisão sexual do trabalho, mas organiza, sem ordem de prioridades, aspectos econômicos, sociais, vivencias particulares, símbolos e representações em imagens de constante movimento, como em um caleidoscópio (NOBRE, 1998). No que pese homens e mulheres exercerem atividades na esfera da produção e da reprodução, tanto do âmbito público, privado, governamental e comunitário, sempre as atividades domésticas e familiares são associadas às mulheres. Um dos resultados disto é que, em todo o mundo, as mulheres têm um dia de trabalho mais longo que os homens (OAKLEY, 1999).

Nesta relação de gênero e trabalho, percebe-se que as atividades exercidas pelos homens recebem da sociedade um maior poder e valor, um reconhecimento de maior importância. Este modelo é utilizado no mundo do trabalho, onde as profissões/ocupações feminizadas, que tem alguma similitude com as tarefas domésticas e de cuidados da família, papel impingindo a mulher como enfermeira, professora, secretaria, assistente social, são desvalorizadas e mal remuneradas. No Brasil, as mulheres recebem em média metade do salário dos homens e as mulheres negras, a metade do salário do que ganham as mulheres brancas. Para a Organização Internacional do Trabalho, a situação das mulheres está melhorando e, se o ritmo atual se mantiver, em 475 anos conseguiremos a igualdade salarial entre homens e mulheres (LOURO, 1997).

A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho no mundo é o mais alta da história, conforme documento divulgado pela OIT[1] aumentou em 200 milhões durante a última década até alcançar 1,2 bilhão em 2007, diante de 1,8 bilhão de homens. Porém no mesmo período aumentou também, o desemprego das mulheres, de 70,2 para 81,6 milhões, com taxa de 6,4 % diante de 5,7% dos homens. A relação emprego-população das mulheres de todo o mundo foi de 49,1% em 2007 diante de 74,3 % dos homens.

Em relação a situação das mulheres brasileiras no mercado de trabalho, segundo PNAD/IBGE 2007, alguns indicadores apontam que, ao longo das últimas décadas houve um aumento significativo da participação das mulheres no mercado de trabalho – 7,5% superior a dos homens. Em 2006, as mulheres representavam 43,7% da população economicamente ativa (PEA), somando 42,6 milhões de mulheres na força de trabalho com um rendimento médio de 65,6% do rendimento médio masculino, e cerca de 31,4% das famílias eram chefiadas por mulheres.

Dentre as mulheres que compõem a população economicamente ativa (PEA), 43,5% concluíram o ensino médio (11 anos ou mais de estudo), enquanto que apenas 1/3 dos homens concluíram. A Pesquisa “Demanda de Perfil dos Trabalhadores Formais no Brasil em 2007” realizada pelo IPEA demonstra que foram contratados 63,3% de homens para 36,7% de mulheres e, 57,9% de não negros para 42,1% de negros nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e Distrito Federal.

O Ministério do Trabalho via dados do CAGED de 2007 aponta a criação de 1.617.392 postos de trabalho, um crescimento de 5,85% de emprego e de 5,2% do PIB. Cresceu emprego para todos os sexos, o desempregou caiu. Para nível médio a empregabilidade cresceu 13,08% para os homens e 9,85% para as mulheres. No nível superior os empregos cresceram em 7,78% para homens, com 394,3 mil empregos gerados para 171,6 mil empregos gerados para as mulheres. As mulheres possuem a maior taxa de desemprego e ocupam trabalhos em condições vulneráveis, precarizados, sem carteira assinada, por conta própria, sendo apenas 3,0% das brasileiras empregadoras. Apesar do aumento do nível de educação das mulheres, sua posição no mercado de trabalho predomina nos serviços domésticos (16,5%), de administração pública, segurança e saúde (22,0%), nos serviços prestados à Empresa (13,3%), na indústria (13,1%), no comercio (17,4%) e 17% em outros serviços e outras atividades[2]. A taxa de desemprego das mulheres em janeiro de 2008(IBGE-PME) foi de 10,1%, menor que a dos anos anteriores, mas essa diminuição não reduziu as desigualdades e as discriminações entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

O rendimento das mulheres em média é muito baixo em relação aos rendimentos dos homens. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego – PME do IBGE, em janeiro de 2008, nas seis regiões metropolitanas, quanto maior a escolaridade das mulheres, menor o percentual de rendimentos.

Proporção dos salários médios das mulheres em relação aos dos homens:

2007 -82%

2006 -83%

2005 -82,1%

2004 – 81,2%

Esses dados refletem a dificuldade que um contingente considerável de mulheres, mais de 52% da população brasileira especialmente as mais pobres e com menor escolaridade, tem que enfrentar para inserir-se no mercado de trabalho.

As mulheres representam um quinto das posições hierárquicas mais altas. Em sete anos, no período que a pesquisa foi realizada, houve um aumento de 6,29% de presidentes mulheres e 5,35% de diretoras. Ainda que essa participação venha crescendo significativamente nas últimas décadas, é muito inferior em relação à taxa de participação masculina nos cargos de comando.

As diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho baseadas no gênero associam-se às práticas de exclusão promovidas por entidades, organizações e comunidades que impõem às mulheres certas barreiras, impedindo-lhes assim de ter as mesmas oportunidades que os homens em situações de trabalho, na política, etc. Estas características postas em nossa sociedade são resultados da sociedade patriarcal, na qual coube ao homem o controle das instituições econômicas, legais e políticas e, à mulher, o cuidado da casa e dos filhos e a satisfação da sexualidade do marido, o que dotou ao homem um poder estrutural, e que lhe concedeu a primazia de grupo dominante e fez com que a família se constituísse em lócus privilegiado de reprodução dos valores patriarcais referentes à superioridade masculina e à inferioridade feminina.

Esses valores, constantemente reforçados durante o processo de socialização, é que levam os meninos a desenvolverem representações de masculinidade associadas à figura do homem como forte, dominador e responsável pelo sustento da família e representações de feminilidade relacionadas à mulher como uma pessoa dócil, submissa e responsável pelo lar e pela prole. Tais representações sobre a supremacia masculina compõem, portanto, o substrato psicológico que justifica as atitudes de discriminação, opressão e dominação feminina, também no mercado de trabalho.

Este assunto foi extensamente trabalhado com os discentes a fim de contribuir com uma sociedade mais justa e igualitária, e que possa ser iniciada desde os primeiros relacionamentos sociais que o jovem estabelece, a fim de erradicar todas as formas de preconceito e violência, também violência doméstica, baseadas no gênero. Para tanto foram desenvolvidas aulas expositivas, júris simulados, rodas de conversas, a dinâmica: Caixa de Pandora, esta atividades foi desenvolvida fora de sala de aula, ao estilo da brincadeira de criança “batata-quente”, onde quem da roda parasse com a caixa na mão deveria abrir uma caixa, retirar de seu interior uma frase de conteúdo preconceituoso e desmitificá-la, discutindo com os demais colegas sobre o assunto e leituras de textos.

Buscou-se através destes temas aliados à metodologia sob a qual foram abordados potencializar as características individuais e coletivas do grupo de alunos do Colégio Estadual Hugo Lôbo, atendendo assim, às orientações dos PCN: saber ser, saber fazer, saber aprender.

PERFIL DA PROFESSORA

Nome: Diane Martina Heger

Formação: Socióloga – Universidade de Brasília – UnB

Graduação: Bacharel em Sociologia e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília – UnB

Disciplina: Sociologia aplicada ao Ensino Médio.

COMPOSIÇÃO DAS TURMAS

São 7 (sete) turmas do segundo ano do Ensino Médio e 2 (duas) turmas do terceiro ano do Ensino Médio, somando um total de 9 (nove) turmas dividas entre o período vespertino e noturno do Colégio Estadual “Hugo Lôbo”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETO, Andreia; ARAÚJO, Leila; PEREIRA, Maria Elisabete (ORG). Gênero e Diversidade da Escola: Formação de Professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de Conteúdo. Versão 2009. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.

Cadastro Geral de Emprego e Desemprego - CAGED, Ministério do Trabalho e Emprego, 2007.

Demanda de Perfil dos Trabalhadores Formais no Brasil em 2007, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA.

FARIA; Nalu; NOBRE, Miriam (Org.). Gênero e desigualdade. São Paulo: Sempreviva Organização Feminista - SOF, 1998.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.

MARTINI, Alice de. Ciências Humanas e suas Tecnologias. Coleção Áreas do Conhecimento. 1ª Ed. São Paulo: IBEP, 2005.

OAKLEY, J. Manual de Formação em Gênero da Oxfam – OXFAM GB. SOS Corpo: Gênero e Cidadania, 1999.

PEDROSO, Regina Célia. Violência e Cidadania no Brasil: 500 Anos de Exclusão. 2ª Ed. São Paulo: Editora Ática, 2001.

PESQUISA Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD/IBGE 2007.

PINSKY, Jaime. Práticas de Cidadania. São Paulo: Editora Contexto, 2004.

RELATÓRIO da Comissão Mundial sobre a Dimensão da Globalização. Brasil: OIT, 2003.

RESK, Sucena. Este lugar é seu! Vida Executiva, nº 42, nov. 2007.

ANEXO

O que é o conceito de Gênero? Ciências Humanas – Profª Diane Heger

O conceito de gênero nasceu nas Ciências Sociais no começo dos anos 80, com o intuito de reconduzir a mulher à vida social, de posse do seu aspecto histórico, crítico e transformável. Nesse sentido, o olhar de gênero ilumina as desigualdades entre homens e mulheres e desmascara concepções que se apóiam na biologia dos corpos para legitimar a ordem masculina no mundo.

Até então, não havia outra classificação entre homens e mulheres a não ser aquela feita por meio do sexo biológico. Muitos foram os estudos nas últimas décadas para desfazer tais arbitrariedades naturalizadas. Se a definição biológica prioriza a visão naturalizada do homem e da mulher, baseada nas diferenças anatômicas, o gênero fundamenta-se justamente na construção social/cultural e relativa, que define homens e mulheres. As construções culturais acontecem por intermédio do processo de socialização na infância. Desde o seu nascimento, meninos e meninas são tratados de maneira diferenciada e condizente com o que é esperado para cada um quando adulto. É nesse processo de socialização que se manifesta uma desigual distribuição dos papéis sociais, criando uma hierarquia social que privilegia o masculino. O conceito de gênero, por considerar as desigualdades entre homens e mulheres baseadas na construção social, demonstra a qualidade transformável dessa condição.

1) No que se baseia o conceito de gênero?

2) O princípio da Equidade de Gênero afirma que homens e mulheres são diferentes, porém não são desiguais. O que você entende a partir desta afirmação?



[1] Organização Internacional do Trabalho. Tendências mundiais do emprego das mulheres. Março, 2008.

[2] Pesquisa Mensal de Emprego, IBGE, janeiro de 2008.

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